quinta-feira, 19 de maio de 2016

ENCONTRO NA UNEB 2




   Sabemos que o sertão vincula-se automaticamente ao conceito de solidão, de distanciamento, de agruras individuais. Eu digo o que já disse antes: o sertão é antes de tudo território de insuficiências. Ou seja, matéria-prima qualificada para a gênese da arte e de artistas.
   Tomo a liberdade de citar Freud e seu estudo “Romances familiares”, num claro abuso de apropriação, para dizer que muito provavelmente este prosador posto à distância de sua naturalidade no tempo e no espaço, urde ficção feito uma criança imaginativa, conferindo nobreza e força ao sertão e ao rio, dotando sertão e rio dessas grandes qualidades, como expressão de uma saudade que tem dos tempos felizes do passado, como lamento por não tê-los mais e como referência de doçura e amabilidade amorosas.
   Sou sertanejo, sou barranqueiro, disso não posso fugir, nem desejo fugir. Eu tive um rio e tive um sertão. As correntezas do tempo poderão a tudo destruir, menos o rio e o sertão que carrego na memória, a quem dedico afeto filial e que dão consistência e volume à minha emoção. 
 Que coisa é esse lugar? Que tem ainda por revelar? Em que se transmuda continuamente? Em que se perpetua, testemunha imperecível da luta inglória do ser humano versus natureza? Que pode esse lugar? Que vida, que morte ainda guarda em seu seio esturricado? Que ilhas fará brotar, por fim, depois da curva do rio? Onde se me escapou, onde se me prendeu? Em que se move em mim?

   Trechos de minha fala de abertura no encontro com estudantes de letras, hoje, na Uneb, a convite de Joseilton Bonfim, mestrando que estuda meus romances "A dama do Velho Chico" e "Beira de rio, correnteza" e que prepara dissertação com o belíssimo tema "O imaginário das águas". Uma tarde agradável e compensadora, que contou ainda com as presenças luxuosas de Mônica Menezes, Lidiane Nunes e Mayrant Gallo. Estamos na luta.

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