quinta-feira, 20 de junho de 2013

CIORAN, SILOGISMOS DA AMARGURA


Só os espíritos superficiais abordam as ideias com delicadeza.

Para nos vingar dos que são mais felizes do que nós, inoculamo-lhes - na falta de outra coisa - nossas angústias. Porque nossas dores, infelizmente, não são contagiosas.

Diariamente converso em particular com meu esqueleto, e isso minha carne nunca me perdoará.

Todas as águas são cor de afogamento.

Aquele que, por distração ou incompetência, detiver, ainda que só por um momento, a marcha da humanidade, será seu salvador.

Deixa-se de ser jovem quando já não se escolhe mais os inimigos, quando a gente se contenta com os que tem à mão.

Todos os nossos rancores provêm do fato de havermos ficado abaixo de nossas possibilidades, sem ter conseguido alcançar a nós mesmos. E isso nunca o perdoaremos aos outros.

Por que nos retirar e abandonar a partida quando ainda nos restam tantos seres a decepcionar?


Extraídos do livro "Silogismos da amargura", Emile M. Cioran, filósofo romeno que radicou-se na França, publicado pela Rocco, em 2011, com tradução de José Thomaz Brum.

Imagem: Bol Fotos

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