sexta-feira, 10 de maio de 2013

A MÁQUINA DE MADEIRA, MIGUEL SANCHES NETO


                                 A MÁQUINA DE MADEIRA, Miguel Sanches Neto, Companhia das Letras, 2012.

O padre sonhador materializa seu sonho. Julga que irá mudar o mundo com a máquina de taquigrafia. O registro dos sermões, das sessões parlamentares, facilitados. Então, na exposição nacional de 1861, perguntam-lhe: “Qual o valor do seu produto?” O produto do sonho pode pertencer a esse tempo, mas não o sujeito que sonha, que jamais pensa no valor comercial de sua criação. O padre sonhador não sabia que o valor desejado era diverso do seu. 

Houve uma infância brasileira, uma juventude, e de lá saltamos para o caquetismo atual, sem passar pela maturidade. Queimamos madeira, poluímos a água, produzimos sonhos sem valor algum até serem apropriados por alienígenas. Um padre, um homem que sonhava, que amava a escrava que comprou e libertou, um que inventou a máquina de escrita antes de ela ser patenteada pelos gringos. História mais brasileira, impossível. Romance histórico, painel de uma época, interessante viagem ao que nunca deixamos de ser. Nós, os que jamais sabemos o valor do nosso produto, do nosso sonho.


Publicado originalmente na revista eletrônica Verbo 21 (www.verbo21.com.br), edição de abril 2013.

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