sábado, 19 de janeiro de 2013

TODAS AS ALMAS, JAVIER MARÍAS

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O que comove é fazer sabendo que o que se faz ou deixa de fazer tem peso e significado. O acaso não comove, e o inocente não encerra outra promessa além da forma pela qual deixará de sê-lo. (Javier Marías, Todas as almas, pag. 75, Martins Fontes, 1999).

Gosto muito de ler o Marías. Depois de "Amanhã, na batalha, pensa em mim", li "Negro dorso do tempo" e "Coração tão branco" nos últimos meses de 2012. Terminei hoje o "Todas as almas", romance que causou um rebuliço na vida do autor, a ponto de engendrar um outro romance, o "Negro dorso do tempo".

Marías foi professor visitante em Oxford durante dois anos. Escreveu "Todas as almas" com base nessa experiência e foi surpreendido pela recepção que o livro teve como se fosse um relato à vera. Por retratar a vida intriguenta e vaidosa dos "dons" de Oxford, Marías enfrentou reações, cobranças e situações estranhas, tão perturbadoras que o fizeram escrever em "Negro dorso do tempo" o seguinte: 

"Foi então, a partir da publicação na Inglaterra, que as averiguações que não procurei bem como os fatos e coincidencias aumentaram seu ritmo que não cessou mais e talvez não cesse nunca, e foi aí que tive às vezes a sensação de que é preciso ter cuidado com o que se escreve nos livros, porque às vezes se consuma. E se esse ritmo não cessar nunca, como prevejo, é bem possível que uma parte da minha vida - mas apenas uma parte - se veja para sempre condicionada e regida por uma ficção, ou pelo que esse romance me foi trazendo e ainda há de me trazer."

Uma das incríveis consequências para Marías foi o recebimento do título de Rei de Redonda, uma ilha nas Antilhas, de cuja linhagem ele se ocupa a certa altura de "Todas as almas", ao resgatar a biobibliografia do escritor John Gawsworth, segundo Rei da ilha. Somente essa história vale a leitura dos romances. Por estranho que pareça, recomendo a leitura de "Negro dorso do tempo" primeiro.

É preciso ter cuidado com o que se escreve nos livros, pois às vezes se consuma, bem diz Marías. A literatura pode ser muito perigosa, sabem disso os autoritários de plantão.

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