terça-feira, 16 de outubro de 2012

A CASA DOS NOVE PINHEIROS, RUY ESPINHEIRA FILHO




Ruy Espinheira Filho comemora seus 70 anos com um novo livro de poemas: A casa dos nove pinheiros. O livro reúne uma seleção de poemas escritos no período 2009-2012, e sai publicado pela editora Dobra, de São Paulo. O aniversário de Ruy será em dezembro, mas, esbanjando generosidade e invertendo a lógica, entrega aos amigos desde já (não haverá lançamento do livro) um presente que é uma celebração emocionada de uma vida bem vivida, na qual afirma crer "que sempre fui feliz, / inclusive nos momentos em que me sentia / e me dizia / infeliz."

A imagem da capa mostra dois pinheiros maiores seguidos por sete outros, "nove pinheiros enfileirados / em curva suave, / do maior ao menorzinho, / representando / o pai, / a mãe, / os sete filhos / que ali moravam." Morava, essa família, em uma casa viva na memória do poeta e ainda de pé na cidade em que passou parte de sua infância, Poções. A foto da  capa, recortada para destacar o detalhe dos nove pinheiros, foi feita pelo filho do Ruy, o jornalista Mário Espinheira.

O poema que dá título ao livro diz dessa presença eterna da casa a habitar o poeta, mesmo tendo nela vivido por meses e não por décadas. Talvez pela particularidade dos pinheiros cravados na parede da varanda e o claro propósito de caracterizar aquela morada como permanente, e que culminou se tornando provisória no plano físico e olímpica no emocional. "Os pinheiros continuarão a lembrar / pai, / mãe, / sete filhos, / mesmo quando não restar sequer um deles / para sentir certo tempo, / respirar a casa, // como eu agora, / com antiga alegria e um sabor / de lágrimas."

Ruy Espinheira Filho tem afinado sua lira ao ponto de alcançar a simplicidade dos poetas maiores. Os versos encadeiam-se naturalmente, e o leitor experimenta a delícia do poema como um voo sem ruídos e turbulências, prenhe de ritmo e densidades várias. E ao pousar, ao final do último verso, terá feito então um percurso de emoção e sabedoria, que se repetirá no poema seguinte até o último do livro. Até uma nova leitura. 

Encerro este comentário com o quarto movimento do poema "Condição":

"Sim, novamente escrevendo.
Sem saber, como sempre, aonde estou indo,
se é que estou indo a algum lugar.

Às vezes me ocorre
que escrever é exatamente isto: ofício
de quem não sabe aonde ir.
E, como não sabe, tateia
na névoa
à espera de encontrar alguma coisa
que não só não sabe onde está
como não sabe o que é
e que talvez seja uma parte da alma que ficou perdida
na travessia
entre sombras ancestrais
e a vida."





Um comentário:

  1. É um livro belo, um dos mais belos livros de poemas que eu tenho. O seu olhar é sempre sessível. Bjsamovc.

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