domingo, 22 de julho de 2012

AÇO

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Concordei com Mayrant Gallo quanto à impressionante primeira página do romance: verão operário, duas adolescentes amigas na praia, um adulto a espiar por um binóculo, o adulto sendo pai de uma delas, perturbado pelo corpo seminu da filha.

Ganhei um exemplar de "Aço" de presente; sempre  Ela, atenta ao meu olhar.

Enfrentei a leitura de "Aço" (primeiro romance da jovem escritora italiana Silvia Avallone, finalista do Strega e vencedor do Premio Campiello Opera Prima, em 2010, lançado aqui no ano seguinte pela Alfaguara, com tradução de Eliana Aguiar) na esperança de receber o que a autora promete na famosa primeira página; não sequências de sexo incestuoso, mas um texto que mantivesse a qualidade literária ali presente.

Ao final, a primeira impressão não se confirmou. Mas a autora deu toda pinta que tem muito a oferecer à literatura italiana contemporânea. Avallone possui olhar aguçado e atento para o drama social e soube captar bem, em "Aço", o desespero instalado na vida das pessoas pela ausência de perspectiva de ascenção social. E, também, ter a consciência de que o que mais importa ao ser humano não é o carro do ano ou o emprego ideal, mas o encontro (ou reencontro) do grande amor, aquele que é neblina e asa, mesmo quando esse amor (ou a ideia de amor) seja apenas pretexto para censuras e espancamentos diários. A vida quase sempre é corda de aço desfiada, e só é vida porque se pode contá-la e cantá-la. E que o sonho de quem vive a dureza do aço, por incrível que pareça, pode ser apenas passar um dia na ilha de Elba. 



Imagem: Bol Fotos, a autora e a foto da edição italiana.

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