terça-feira, 10 de abril de 2012

EXPURGO



Em algumas fotos, Sofi Oksanen parece irmã de Amy Winehouse - nariz, boca, um tom espalhafatoso. Na primeira foto, professoral, Oksanen posa ao lado de um cartaz com a capa orginal do romance "Expurgo"; a segunda foto é a da capa brasileira, da editora Record; e a terceira é uma daquelas a que me referi no começo do parágrafo.

Oksanen é uma excelente escritora. Tão logo fechei o volume de "Expurgo", cuja leitura concluí hoje, a frase anterior me veio naturalmente. De anotações retiradas de um caderno a trechos ultrassecretos de relatórios de espionagem do serviço secreto soviético na Estônia, a narrativa expõe feridas, afasta véus, tempera o palato do leitor com frutas frescas e alimentos em conserva, construindo biografias de personagens interessantes, conectados a um presente mafioso e a um passado de conflagração entre fascismo e comunismo.

"Expurgo" não tem o valor literário, por exemplo, de "O rei branco", de Gyorgy Dragoman, já comentado aqui neste blogue. Mas prende o leitor com uma história familiar, que parece clara de início, e, no entanto, mostra-se repleta de enganos, traições, espionagem e medo. A partir do encontro de uma jovem foragida com uma solitária velhinha, moradora de uma casa isolada às bordas de um bosque, na Estonia de 1992, acompanhamos a movimentação tensa dos personagens na burla aos poderosos e entre si mesmos, desde a Segunda Guerra. E da mesma forma que em "O rei branco", em "Expurgo" sentimos quão absurda é a estrutura dos regimes ditatoriais e de como os interesses pessoais estão e estarão sempre acima de qualquer ideologia. Pois a questão primal é a sobrevivência, secundada pelo amor, ou vice-versa, pois nunca se sabe ao certo os desmandos do coração.



Imagens: Bol Fotos e www.record.com.br

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